17 Mar 2011

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A ESPROARTE - Escola Profissional de Arte de Mirandela, foi criada em 23 de Agosto de 1990 através do Contrato Programa celebrado entre o ESTADO/GETAP (Gabinete de Educação Tecnológica Artística e Profissional) e a Câmara Municipal de Mirandela.

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Uma Escola de Arte onde o talento se trabalha todos os dias

ESPROARTE, revela-nos que a arte exige muito mais do que sensibilidade e talento, a verdadeira Arte, exige trabalho, disciplina e quase uma entrega total, sempre na senda da ambicionada e, quiçá, inatingível perfeição. Nesta escola crescem talentos que de tenra idade se entregam à música e que aqui, aos 12 anos, dão início a um difícil caminho onde a palavra de ordem é trabalho, trabalho e mais trabalho. Dizem os músicos que a aprendizagem exige horas a fio de treino diário, sete dias por semana, 30 dias por mês, 365 dias por ano. “Não basta ter talento é preciso ensaiar, tocar quatro a cinco horas por dia, todos os dias, sem
férias”, explica José Francisco, director pedagógico desta escola. São 130 os alunos que ali iniciam um percurso de vida, mas são centenas os jovens que anualmente ficam de fora. “Chegamos a ter 500 inscrições por ano, de toda a região Norte e só admitimos 23 alunos por ano, uma turma do 7º ano”, acrescenta. Os alunos têm de prestar provas para além da aptidão musical: “É importante mas os alunos que seleccionamos têm de ter mais do que vocação para a música, têm de ter capacidades intelectuais altas”, diz. Em todo o país só há cinco Escolas Profissionais de Musica e a de Mirandela é a única na região de Trás-os-Montes e Alto Douro. “Por isso temos estudantes de Guimarães, do Porto, de Lamego, de Vila Real, das Beiras e de quase todos os concelhos do distrito de Bragança”.

A carga horária nesta escola é mais pesada do que no ensino regular. Do 7º ao 9º ano os alunos têm uma vertente Sociocultural onde se incluem as disciplinas de Inglês, Português, Ciências Físicas e Naturais, Ciências Humanas e Sociais e Matemática. Mas têm também as vertentes Tecnológica e Prática na aérea da formação musical. Cada aluno aprende a tocar um instrumento, sobre o qual vai incidir a sua formação, “para ser solista”, explica José Francisco, e ainda um instrumento de tecla. Do 10º ao 12º ano os formandos têm um reforço da componente musical mas continuam com vertente sociocultural, que lhes faculta equivalência ao 12 º ano na área de humanidades. Para além das aulas normais, dos ensaios em grupo, por turma ou nas orquestras, cada aluno tem aulas individuais, onde aperfeiçoa as técnicas e aprofunda os conhecimentos.

Os ensaios nas orquestras duram várias horas, os estudantes são avaliados pelo seu desempenho enquanto músicos mas também pela sua postura em palco, pela presença, pela actuação em grupo, etc. No final de cada etapa de aprendizagem são sujeitos a audições individuais, “e só se defendem se realmente estudarem e praticarem  continuamente”, refere José Francisco. As aulas nesta Escola profissional estendem-se diariamente até perto das 20h00 e são muitos os fins-de-semana em que os estudantes são solicitados para a realização de concertos um pouco por todo o lado.

Saídas da Orquestra obrigam a uma logística complicada

Para além do transporte dos alunos membros da Orquestra, cada saída do grupo da Esproarte envolve uma logística bastante complicada. A Orquestra Sinfónica da escola conta com 70 elementos e o transporte dos instrumentos não pode ser feito no autocarro, pelos cuidados que os próprios instrumentos exigem em termos de acondicionamento mas também pelo tamanho de alguns deles. “Temos sempre de levar os instrumentos num carro à parte”, diz. Mesmo assim a Escola empenha-se em sair sempre que possível e em mostrar o valor e a arte dos seus alunos.

Aliás, estas saídas têm sido o motor de divulgação da Escola junto dos potenciais alunos. Com um grupo do 8º ano a Esproarte dá espectáculos em várias escolas por toda a região despertando sempre o interesse de algum aluno que no concelho onde reside não tem a oportunidade de estudar música. Foi o caso de Ana Amorim, natural de Carlão, Alijó. Pertencente a uma família de músicos e elemento da Banda Filarmónica da terra não hesitou em fazer a sua inscrição da Esproarte depois de um grupo da escola profissional ter passado pelo estabelecimento de ensino que frequentava. “Decidi logo que queria vir para aqui estudar”, conta. Tinha apenas 12 anos e optou por estudar longe da família para seguir o seu sonho. Realizou todas as provas de admissão e foi uma das escolhidas. Tem agora 17 anos e continua a viver na residência de Estudantes, a cargo da Câmara Municipal de Mirandela, que acolhe estes jovens que se deslocam de outros municípios para poder estudar na cidade do Tua. “Foi muito difícil a separação dos pais mas aqui na Escola toda a gente se conhece e houve muita
atenção por parte de todos, em pouco tempo ficamos integrados”.

Bruno Sousa, natural de Felgar, no concelho de Torre de Moncorvo, fez o mesmo percurso, com 12 anos entrou na Esproarte. “A adaptação foi facilitada porque vim com o meu irmão”, conta. Também ele tinha  anteriormente ligações à música graças à Banda Filarmónica do seu concelho. No entanto, a Ana que na banda tocava saxofone foi para a escola aprender flauta, o Bruno que tocava clarinete é actualmente violinista. “Nós temos determinados lugares para cada tipo de instrumento os alunos têm se sujeitar às vagas que existem”, refere José Francisco. E, regra geral, sem qualquer problema. Quando perguntamos a estes jovens se a família lhes costuma pedir para tocarem, os dois respondem: “Não precisam, nós estamos sempre a tocar, em todo o lado”. Mesmo em casa, mesmo de fim-desemana, mesmo de férias, incutiram a obrigação de estudo diário e fazem desse estudo uma prática de rotina.

Os alunos ganham na Esproarte um espírito de trabalho e uma vontade de vencer que lhes tem valido vários reconhecimentos externos. A directora da Escola, Gentil Pontes Vaz, vereadora da Cultura na Câmara de Mirandela, não esconde o orgulho por cada prémio arrecadado pelos “seus” estudantes. “Uma das nossas alunas, a Joana Nunes, foi agora seleccionada para a Orquestra de Jovens da União Europeia”, apontou, explicando que eram mais de 800 os candidatos e a jovem que estudou em Mirandela e toca Viola-d’arco conseguiu assegurar o lugar de membro efectivo. Mas há mais, no Festival La Sallet, que recentemente decorreu em Oliveira de Azeméis dois alunos da Esproarte, Rui ramos e Joana Bento arrecadaram o primeiro e segundo lugares, respectivamente, em Flauta, e o terceiro lugar de Trombone foi também conseguido por um aluno da mesma escola.

São muitos os premiados nos mais diversos concursos e é esta qualidade conseguida que leva o município de Mirandela a apoiar sem qualquer tipo de reserva o funcionamento da Esproarte. A Escola é co-financiada por fundos comunitários mas a autarquia tem de assegurar muitas das despesas.

Alunos vencedores

Dos 39 professores que ali leccionam 15 são estrangeiros, boa parte veio logo no início da constituição da escola, são docentes altamente qualificados e que garantem a excelência de ensino da escola. “Essa qualidade tem de ser paga, eles ganham à hora e temos de lhes pagar bem”, refere Gentil Vaz. Se não fosse assim nunca o município teria conseguido fixar estes músicos em Mirandela, onde actualmente praticamente todos fixaram residência.
A própria vereadora e o presidente da Câmara, a título pessoal, têm de servir de fiadores das contas da Esproarte, porque muitas vezes os fundos comunitários atrasam-se e os bancos precisam de garantias.

Em Revista Mas, Nº3 – Ana Fragoso

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