Foi o sueco Nills Brunson, na obra de referência A Organização da Hipocrisia, quem cunhou a metáfora da organização (das políticas) hipócrita para compreender as razões de se dizer uma coisa, decidir outra e ainda fazer uma outra. Num mundo perdido, de princípios, de referências, de critérios, de sentido de justiça, de proporção, de sensibilidade, de lucidez… surge o explendor da hipocrisia. Reféns de um défice construído por sucessivas vagas de irresponsabilidade , estamos agora a pagar os muitos preços, e outros se parecem anunciar. Preços que atinjam quem os não devia suportar e que atingem elevados níveis de absurdo.
Vem este intróito a propósito do que se está a passar no ensino da música.
Os contratos de patrocínio para o ensino básico, integrado, articulado e supletivo, acabaram a meio do ano – através de informação telefónica – porque vão ser financiados pelo POPH. Uma decisão depois de contratos assinados, prefigurando uma irremediável perda de confiança e uma clara ilegalidade. O concurso do POPH tem de se fazer até final de Março [para financiar desde Janeiro do presente ano]….Uma decisao de aprovação talvez lá para final do ano lectivo. E as escolas, os alunos e as famílias que se aguentem!
Esta operação exigiu a invenção de uma nova medida para encaixar à força no Eixo 1 do POPH – Qualificação inicial de jovens que é a 1.6 “Ensino Básico artístico especializado”, publicado na página do POPH ainda sem número de Diário da República.
Destina-se, portanto, a crianças do 2º e 3 ciclos do Básico. Ao potencial humano. Na organização da hipocrisia querem “qualificar profissionalmente” milhares de crianças e jovens com nível 2 na música, como se os alunos que frequentam os cursos básicos fossem todos ser profissionais de música… Mas só até ver. O horizonte é o fecho da torneira dos fundos europeus.
Aliás, a grelha de análise das candidaturas só na lógica do faz de conta se pode aplicar a crianças e jovens de entre os 10 e 15 anos.
E, entretanto, os verdadeiros cursos profissionais de música de nível 2 vão deixar de ser financiados… porque não se enquadram.