23 Mar 2011

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A APROARTE - Associação Nacional do Ensino Profissional de Música e Artes, constituída no ano de 1999 e integrando actualmente como associadas todas as Escolas Profissionais privadas de Música em actividade.

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O Esplendor da Hipocrisia

Foi o sueco Nills Brunson, na obra de referência A Organização da Hipocrisia, quem cunhou a metáfora da organização (das políticas) hipócrita para compreender as razões de se dizer uma coisa, decidir outra e ainda fazer uma outra. Num mundo perdido, de princípios, de referências, de critérios, de sentido de justiça, de proporção, de sensibilidade, de lucidez… surge o explendor da hipocrisia. Reféns de um défice construído por sucessivas vagas de irresponsabilidade , estamos agora a pagar os muitos preços, e outros se parecem anunciar. Preços que atinjam quem os não devia suportar e que atingem elevados níveis de absurdo.
Vem este intróito a propósito do que se está a passar no ensino da música.

Os contratos de patrocínio para o ensino básico, integrado, articulado e supletivo, acabaram a meio do ano – através de informação telefónica – porque vão ser financiados pelo POPH. Uma decisão depois de contratos assinados, prefigurando uma irremediável perda de confiança e uma clara ilegalidade. O concurso do POPH tem de se fazer até final de Março [para financiar desde Janeiro do presente ano]….Uma decisao de aprovação talvez lá para final do ano lectivo. E as escolas, os alunos e as famílias que se aguentem!

Esta operação exigiu a invenção de uma nova medida para encaixar à força no Eixo 1 do POPH – Qualificação inicial de jovens que é a 1.6 “Ensino Básico artístico especializado”, publicado na página do POPH ainda sem número de Diário da República.

Destina-se, portanto, a crianças do 2º e 3 ciclos do Básico. Ao potencial humano. Na organização da hipocrisia querem “qualificar profissionalmente” milhares de crianças e jovens com nível 2 na música, como se os alunos que frequentam os cursos básicos fossem todos ser profissionais de música… Mas só até ver. O horizonte é o fecho da torneira dos fundos europeus.

Aliás, a grelha de análise das candidaturas só na lógica do faz de conta se pode aplicar a crianças e jovens de entre os 10 e 15 anos.

E, entretanto, os verdadeiros cursos profissionais de música de nível 2 vão deixar de ser financiados… porque não se enquadram.

E pode perguntar-se: mas podia ser de outro modo? Não domino todas as variáveis em questões para responder em consciência. Mas penso que deveria ser de outro modo. Porque em política não vale tudo. Não vale rasgar contratos. Não vale fabricar realidades virtuais. O defice tem de ser reduzido atacando os privilégios, o desleixo e as imoralidades. 

 

José Matias Alves
(Doutor em Educação pela UCP; Investigador; Professor Convidado pela Universidade Católica Portuguesa)
in blog Terrear – Quinta-feira, Março 03, 2011
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